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Você já se perguntou o que são as pichações? 



A pichação é uma forma de expressão gráfica realizada de forma ilegal, segundo a Constituição da República Federativa do Brasil. De acordo com a Lei 9.605/98, artigo 65, as pichações fazem parte dos crimes contra o ordenamento urbano, patrimônio cultural e meio ambiente. Conforme a lei, quem comete esse tipo de crime deve ser condenado a detenção, variando de três meses a um ano, além de pagar multa.


Já o grafite, segundo o parágrafo §2 da mesma lei, não é considerado crime caso tenha o objetivo de valorizar um patrimônio, seja ele público ou privado, desde que a prática seja aprovada pelo proprietário, no caso de um bem privado, ou pelo órgão responsável, se for um bem público (Souza, 2018).


De acordo com o blog Xarpixo, o termo “picho” pode ser escrito de duas formas: "picho" que é o ato de pichar e "pixo" que é a nomenclatura dada pelos próprios pixadores, que consideram esse movimento revolucionário.


Durante o Império Romano, surgiram inscrições em paredes, consistindo em desenhos e escritas relacionados a pensamentos filosóficos e críticas políticas. Assim, surgiu o termo “grafite”, do italiano “graffiti”. Essa ideia de expressão em monumentos públicos ou privados permanece até hoje. Embora a técnica tenha se transformado, o uso de cores e os tipos de desenhos permanecem. De acordo com o blog Médium (2019), há indícios de que havia esse tipo de escrita nos muros de Pompeia, a cidade italiana destruída por volta de 79 d.C., onde eram encontradas poesias, manifestações políticas e anúncios de eventos.


A pichação começou a ganhar mais espaço em Paris, nos movimentos revolucionários de 1968. Em Nova Iorque, o grafite surgiu também na década de 1960, como marcação de territórios dos moradores dos guetos.


O picho chegou ao Brasil junto com a Ditadura Militar, nos anos 60, com o objetivo de protesto político, tentando alcançar o máximo de pessoas possível. Na década de 1980, São Paulo começou a ser marcada pelas famosas letras da pichação, hoje tão características, influenciadas pelas capas de discos de Heavy Metal, Hardcore e de bandas de Rock, além do movimento punk. As letras possuem inspiração na escrita rúnica dos povos germânicos, criando uma antropofagia cultural em que o picho absorve essas escritas medievais e as adapta à realidade da periferia. As mensagens podem ter um caráter mais poético, provocador e questionador. Com isso, a pichação passa a tender mais ao radicalismo subversivo, potencializando a voz da periferia (Médium, 2019).


No final dos anos 80 e início dos anos 90, os prédios de São Paulo começaram a virar alvos da pichação, com os pichadores buscando cada vez mais reconhecimento. Quanto mais alto o local da pichação, maior era a valorização do pichador. Na mesma época, a pichação passou a ser mais voltada para o ego do pichador, menos para as mensagens políticas, com o objetivo de deixar sua marca registrada na cidade, onde há também uma preocupação estética.


Atualmente, as pichações são mais encontradas nas periferias das cidades, em muros, paredes, prédios, lugares abandonados, placas ou locais públicos, muitas vezes como forma de manifestação política. Normalmente, essas expressões evidenciam algum problema social ou criticam o governo, a sociedade, o sistema, entre outros.


A prática da pichação abrange desde manifestação política e reconhecimento até a busca por adrenalina e pertencimento social. O objetivo do picho é ser desconfortável e provocador, visto que nasceu como forma de manifestação social, política e ideológica, e não necessariamente como uma arte a ser admirada. O picho ocorre onde o Estado não age, podendo ser utilizado como um termômetro social, já que acontece onde há um maior contraste social, político e ideológico.


Além do cunho político e do reconhecimento, a pichação também tem como motivação a diversão e a integração entre os pichadores, fortalecendo a identidade e o sentido de pertencimento. Outra razão é a adrenalina provocada durante a ação, principalmente em uma cidade marcada pela insegurança e violência, onde o ato de pichar proporciona uma sensação de êxtase e liberdade.


Voltando ao cunho político, a pichação é uma resposta à exclusão social e à marginalização política. Vivemos em uma sociedade onde o regime gira em torno do capital. Àqueles que não possuem capital são excluídos das decisões, e os pichadores encontram no picho uma forma de voz e reconhecimento.


No entanto, vale lembrar que, apesar das suas motivações e significados, a pichação continua sendo classificada como crime, de acordo com a legislação brasileira. Qualquer intervenção em locais públicos ou privados sem a devida autorização do proprietário é configurada como crime, mesmo que seja um grafite esteticamente bonito.


Referências


GARCIA, Estevan; KLEBER, Vanessa. Pichação: desabafo social ou problema social? Em Pauta. [s.l.] 21 out. 2016. Disponível em: <https://wp.ufpel.edu.br/empauta/pichacao-desabafo-social-ou-problema-social/> Acesso em 20 ago. 2024.


GOTO, João F. R. Por um outro olhar: política, pichação, Michel Foucault e a filosofia cínica. Xadrez Verbal. São Paulo: 4 set. 2014. Disponível em: <https://xadrezverbal.com/2014/09/04/por-um-outro-olhar-politica-pichacao-michel-foucault-e-a-filosofia-cinica/>. Acesso em 20 ago. 2024.


PICHAÇÃO e Pixação. Xarpicho. [s.l.]. 5 set. 2015. Disponível em: <https://xarpixo.blogspot.com/p/diferencas-entre-pichacao.html>. Acesso em 20 ago. 2024.


PIXO Arte. A escrita da presença. Gravura Contemporânea. [s.l.]. [s.d.]. Disponível em: <http://gravuracontemporanea.com.br/pixo-arte-a-escrita-da-presenca/> Acesso em 20 ago. 2024.


SANTA ROSA, Mario H. F. V. Do picho ao grafite: a intervenção urbana nos muros da cidade. Medium. [s.l.]. 11 jun. 2019. Disponível em: <https://medium.com/esquinaonline/do-picho-ao-grafite-2db0eb749a08> Acesso em 20 ago. 2024.


SIMBOLIKER. Pichação e Runas. Medium.  [s.l.] 24 dez. 2019. Disponível em: <https://medium.com/@simboliker/picha%C3%A7%C3%A3o-e-runas-44ad67810212>. Acesso em 20 ago. 2024.



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