Valorizando Nossas Diferenças: O Impacto da Diversidade Cultural Entre Funcionários no Ambiente Educacional da Unidavi
- Viviane Burger
- 25 de mar.
- 4 min de leitura
A diversidade cultural contribui para uma sociedade mais justa, colaborativa e equilibrada, além de nos ajudar a considerar e respeitar as diferentes formas de ser. Ela também estimula a inovação e a criatividade, fortalece identidades e pertencimento e, o mais importante, promove a tolerância e o respeito. A diversidade cultural faz parte da nossa essência enquanto sociedade; ela caracteriza tradições, permitindo que cada povo expresse sua própria identidade.

É muito comum que pessoas que migram para outro estado sintam dificuldades devido a grandes mudanças em suas vidas, como a saudade da família e dos amigos, o sentimento de isolamento, as adversidades na comunicação e a pressão para se adaptarem a uma nova cultura, o que pode ser muito estressante. Além disso, muitos ainda enfrentam preconceitos e são julgados por sua cultura diferente, já que muitos povos demonstram pouco respeito em relação às novas culturas.
Mas você já se perguntou por que temos medo de mudanças culturais?
O medo de mudar pode vir tanto do excesso de imaginação – imaginar como será difícil, com uma visão pessimista e exagerada – quanto pela falta dela, por não conseguirmos imaginar ou enxergar o quanto o novo pode ser bom. Entretanto, ao conversar com pessoas que já moram em outro estado há anos, percebe-se que a maioria delas já está acostumada e fala sobre a mudança de forma nível e clara.
Reconhecendo a importância do tema, esta reportagem reúne depoimentos e histórias de funcionários que trabalham na Universidade do Alto Vale do Itajaí, em Rio do Sul, Santa Catarina. Esses funcionários vêm de diversas regiões do Brasil, alguns em busca de uma vida melhor, com mais oportunidades, e outros com o desejo de trabalhar na melhor universidade da região catarinense. No entanto, esses migrantes podem enfrentar desafios que vão desde o clima frio do estado até os diferentes hábitos alimentares, que incluem sagu, polenta e cuca, o que representa uma adaptação desafiadora para quem está acostumado com o cuscuz paulista, sanduíche de mortadela e bauru, por exemplo.
O primeiro funcionário entrevistado foi o professor de Língua Portuguesa Jânio Dávila de Oliveira, de 36 anos, natural de Santa Maria, no coração do Rio Grande do Sul. Ele veio para Santa Catarina em 2021 com o objetivo de trabalhar na educação e afirma ter notado diferenças na população, que é mais fechada e reservada. Mas não só isso, ele também destacou a alimentação, com muitos pratos de influência alemã e a mistura de doces e salgados, o que foi um desafio para sua adaptação. “Estar longe da minha família e dos meus amigos é uma dificuldade que enfrento”, afirma Jânio quando questionado sobre o assunto. Contudo, o professor também considera essa mudança vantajosa: “Foi vantajoso, pois Rio do Sul é uma cidade segura, tem uma boa qualidade de vida e eu gosto da escola em que trabalho.”
A assessora administrativa Flávia Vargas Pinheiro, de 45 anos, mudou-se com seus pais para Santa Catarina há 25 anos, após uma aposentadoria deles. Ela não teve muita escolha e teve que vir. Flávia notou diferenças na comida e na cultura de modo geral, mas, ao ser questionada sobre dificuldades enfrentadas, disse não ter sentido nenhuma delas: “Não houve nenhuma dificuldade de adaptação para mim e foi extremamente vantajoso e importante ter me mudado para cá”. A profissional, embora tenha chegado em 2000, começou a trabalhar na instituição apenas em 2022, por indicação de um amigo.
A próxima entrevistada foi a auxiliar de limpeza, Letícia Silva Barbosa Melo, de 35 anos. Há 15 anos, ela veio de Alagoas para Santa Catarina em busca de melhores oportunidades de trabalho. Letícia relata ter notado várias diferenças culturais, principalmente na comida, nos temperos, no jeito das pessoas e no sotaque. Ela também afirma ter sofrido dificuldades, especialmente por conta do seu estado de origem: “Eu sofri muito julgamento por causa do meu sotaque; algumas pessoas fizeram gracinhas e coisas do tipo…”. Apesar dos obstáculos, Letícia considera sua mudança vantajosa: “Foi muito vantajoso ter vindo para cá.”
Realizou-se também uma entrevista com Douglas Heinz, de 47 anos, natural de Santa Catarina, que ainda reside no estado e trabalha como professor na Unidavi. Ele afirma que os benefícios da vida em Santa Catarina são muitos: a diversidade cultural da população, a qualidade de vida proporcionada pelo estado, além das várias opções de turismo relativamente próximas (litoral, serra, águas termais, parques, atrações culturais etc.). No entanto, ele também aponta os malefícios, como a concentração econômica no litoral, que dificultam a logística e limitam quem vive em outras regiões. O principal problema destacado na entrevista, no entanto, foi a baixa tolerância cultural, social, política e religiosa da população.
Essa "baixa tolerância" tem um nome formal: xenofobia. Esse termo se refere ao tratamento diferenciado (muitas vezes ofensivo) que uma pessoa recebe devido ao seu local de origem ou aos seus traços étnicos. Quem comete xenofobia pode ser punido com uma pena de reclusão de um a três anos e multa, dependendo da forma do crime (físico ou verbal). Nosso estado, que recebe muitos imigrantes, como relatado nas entrevistas, ainda registra casos de xenofobia diariamente.
Isso é evidenciado pelo relato do professor Alex Rodrigues, de 48 anos, natural de São Paulo, que enfrentou e ainda enfrenta dificuldades desde que se mudou para Santa Catarina, em 2018, por motivos de estudo. Ele afirma que a mudança foi vantajosa, mas apenas no aspecto profissional, pois não há muitas diferenças, principalmente no vocabulário e nas expressões, além das questões culturais e alimentares.
Outro depoimento relevante é o de Nevton de Liz Ebenau, professor de Língua Inglesa, de 48 anos, natural de Londrina, Paraná. Ele mudou para Santa Catarina em 2021 por conta do trabalho e considera uma mudança vantajosa, apesar das dificuldades de adaptação à cultura local. Nevton comentou que, embora Santa Catarina e Paraná sejam vizinhos, as pessoas aqui são mais organizadas e individualistas, e conta também que notou diferenças na comida.
A experiência de migrar para Santa Catarina, como demonstrada pelos depoimentos, revela tanto os desafios quanto as vantagens da adaptação a uma nova cultura. Embora muitos imigrantes enfrentem dificuldades relacionadas à saudade, diferenças alimentares e comportamentais, e até preconceito, é possível perceber que, com o tempo, a maioria consegue se adaptar e valorizar a nova realidade. No entanto, é essencial que haja maior compreensão e respeito às diferenças culturais, incentivando a educação e a convivência social, a fim de construir um ambiente mais inclusivo e respeitoso para todos.
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