REBOBINADA NA HISTÓRIA: UMA ANÁLISE DO CINEMA BRASILEIRO
- Viviane Burger
- há 1 hora
- 4 min de leitura
O cinema no Brasil teve seu início em 1896, no Rio de Janeiro, quando foram apresentados uma série de curtas mostrando a vida nas cidades europeias, o seu início foi marcado por fortes influências estrangeiras, majoritariamente francesas, mas rapidamente tomou identidade própria, quando Affonso Segreto concluiu sua primeira gravação de imagens em movimento feita no Brasil, que hoje marca o Dia do Cinema Brasileiro.
A filmagem contava com a entrada do navio francês Brésil a bordo na Baía de Guanabara, a captura de imagens feita por Affonso marcou a história do país ao apresentar uma nova maneira de compartilhar parte de sua cultura, agora de forma visual, por entre outros estados e países do mundo. Logo após as primeiras exibições, foi aberta a primeira sala de cinema fixa no Brasil, o Salão de Novidades Paris, inaugurado em 1987 pelos irmãos Segreto. As primeiras produções do cinema Brasileiro focavam em histórias fictícias que retratavam o começo do século XX, como no caso de “Os Estranguladores”, dirigido por Antônio Leal em 1908.
Após um tempo, o cinema nacional acabou se dividindo em duas correntes, o cinema novo: influenciado pela cultura norte-americana, essa corrente era altamente politizada e criticava o Estado ao procurar denunciar a pobreza e a desigualdade social, trazendo temas como críticas sociais e intervenções no debate público. No início da ditadura militar, esse tipo de produção foi alvo da censura quando o governo insistia em investir em obras não-politizadas. Já o cinema marginal surgiu para desafiar o cinema novo, um desdobramento que visava a liberdade de expressão radicalizando a independência e incluindo temas como anti-heroísmo e a ironia.
Com o passar dos anos, os longas nacionais tomaram um rumo mais focado em demonstrar a realidade brasileira, especialmente a porção periférica e desfavorecida socialmente da população, além de diferentes perspectivas de histórias não contadas. Exemplos de filmes como Cidade de Deus (2002) e Central do Brasil (1998) que estampam a desigualdade sofrida por pessoas de classe social baixa, especialmente as vivências nas favelas cariocas. Outro exemplo é Marte Um (2022), obra que conta a perspectiva de uma família negra em busca de sobrevivência em um Brasil polarizado. Retratando o dia a dia de inúmeras famílias que sofrem para ascender economicamente e saírem de uma vida sem condições básicas.
Um filme lançado mais recentemente e aclamado tanto pela crítica quanto pelas premiações foi Ainda Estou Aqui (2024), dirigido por Walter Salles, renomado diretor brasileiro, estrelado por Selton Mello e a vencedora do Globo de Ouro de Melhor Atriz em Drama: Fernanda Torres. O filme é uma adaptação da obra de mesmo nome, que relata a história da família Paiva, quando em meio à ditadura Rubens Paiva, o pai e deputado do Rio de Janeiro é sequestrado pelos militares e nunca mais retorna. Então a matriarca, Eunice, toma as rédeas da família e luta para que ela e seus filhos não sofram o mesmo destino do marido, enquanto ainda sofrem com o luto da perda de Rubens.

O longa conta uma experiência vivida por diversas pessoas, que no regime militar perderam colegas, amigos e familiares, sendo que muitas vezes o paradeiro do indivíduo nunca foi revelado. Assim, é de suma importância que temas como esses sejam retratados, pois até hoje há uma tentativa de acobertar os acontecimentos daquela época e apagar histórias de famílias como os Paiva, que tiveram finais parecidos ou até piores. Além do prêmio citado anteriormente, Ainda Estou Aqui ganhou o Oscar de Melhor Filme Internacional, sendo o primeiro totalmente brasileiro, e Fernanda Torres também foi indicada a Melhor Atriz.
Atualmente, a agência nacional do cinema (ANCINE) tem um papel essencial na produção e divulgação dos filmes no Brasil, mas muitas vezes esquecido pelo público. Esse órgão é responsável não só por construir e valorizar a indústria do entretenimento do país, como também por fomentar e regularizar o mercado audiovisual. Ela é diretamente vinculada ao ministério da cultura, e tem muitas ações para garantir o desenvolvimento adequado desse setor. A ANCINE fornece diversas formas de apoio financeiro para as produções, que não são baratas. Esse tipo de suporte é fundamental para a viabilização dos projetos, já que muitos nem sairiam do papel. Ela também regula a questão de transparência e a proteção dos direitos autorais, além da fiscalização do cumprimento de normas por parte das empresas e profissionais do setor.
Apesar do apoio por parte da ANCINE, a distribuição dos filmes nacionais ainda é escassa e pequena quando comparada a de filmes norte-americanos ou europeus. Pesquisas do Itaú Cultural mostram rankings que indicam que em 2022 e 2023, nenhum filme nacional esteve entre os 20 mais vistos no Brasil. Isso se dá por muitos motivos, como a supervalorização de distribuidoras internacionais mais antigas e que já tem grandes nomes na indústria.
A maioria das distribuidoras brasileiras, principalmente as independentes, não possui o orçamento milionário das gigantes estrangeiras para campanhas de marketing eficazes. Sem uma divulgação massiva, muitos filmes nacionais passam despercebidos pelo público.
O cinema nacional nos dias de hoje não é só uma forma de entretenimento ou lazer. É uma vitrine cultural, que busca representar a identidade e cultura brasileira, muitas vezes apagada. Não só o alcance internacional é de extrema importância, mas também o alcance nacional. Muitos brasileiros não sabem de suas tradições, suas origens, e a linguagem audiovisual tem o poder de transmitir coisas que muitas vezes não conseguem ser faladas, afinal, o cinema provoca sensações únicas.
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